DANILO SANS
O assassinato das irmãs Roberta e Renata Yoshifusa, 16 e 21 anos, respectivamente, na noite da última sexta-feira, na Vila Oliveira, causou, além de espanto, muita indignação. Pelas circunstâncias, ganhou repercussão nacional. No entanto, psicólogos e especialistas em criminalidade afirmam que o fato de o crime ter sido causado por alguém de confiança da família e, ainda por cima, dentro de casa, não é algo tão fora do comum: pelo menos 70% dos estupros são causados por pessoas próximas às vítimas.
Conforme conta o especialista em segurança
pública e privada e pesquisador criminal, Jorge Lordello, a violência contra a
mulher ocasionada por pessoas próximas, como marido, namorado, parente ou mesmo
empregado é algo que acontece bastante no País e há muito tempo.
Apesar de não ser um consenso entre os
entrevistados, Lordello aponta para o fato de a beleza ser determinante em casos
de estupro. "Pelas minhas pesquisas, é possível dizer que as mulheres mortas
neste tipo de crime eram, na maioria, bonitas", revela. Ele diz que para uma
pessoa com desvio de conduta sexual, isso pode ser decisivo.
Ele aponta o caso da vendedora Vanessa de
Vasconcelos Duarte, morta aos 25 anos na Grande São Paulo. "O rapaz se
interessou por uma menina do mesmo bairro sem conhecê-la. A beleza física fez
com que ele a monitorasse para poder cometer um sequestro, estuprar e
assassinar", lembra.
No caso da Vila Oliveira, os 15 anos que o
assassino, Antonio Carlos Rodrigues da Silva Junior, de 30 anos, conviveu com a
família das vítimas, Renata e Roberta Yoshifusa
(leia mais na página 5), também pode ter sido um determinante para o crime. "A confiança que
as pessoas depositaram nele mostra o absurdo da violência, mas também revela
como o tempo pode fazer este tipo de atração crescer e culminar em um crime",
aponta.
O especialista está desenvolvendo um estudo
sobre os "Sinais Exteriores da Violência" e alerta para o fato do criminoso,
antes da prática do delito, demonstrar alguns sinais que podem ser percebidos
pela vítima. "No caso de um possível abuso, a mulher começa a sentir um olhar
diferente, uma frase incomum, um jeito estranho de encostar", fala, alertando
que "esses crimes bárbaros não acontecem de um dia para o outro, mas é um
processo que vai se desenvolvendo na cabeça do criminoso e que deixa algumas
pistas", completa.
AlertaDoutora em Psicologia pela Universidade de São Paulo (USP) e especialista em vítimas de crimes sexuais, Cândida Plaza Teixeira diz ser impossível prever que algo assim possa acontecer, mas deixa um alerta: "Acho que isso deve ser utilizado como advertência. Se você não conhece a pessoa, não deve deixá-la dentro de casa. Pela minha experiência, sei que pelo menos 70% dos casos de estupro são ocasionados por pessoas consideradas conhecidas pela família", fala.
Em um ponto ela é enfática: "A culpa nunca
será dos pais ou da vítimas. Independentemente dos fatos, o responsável é sempre
o agressor e isso nem deve entrar em discussão", complementa.
A psicóloga chama a atenção para o fato do
criminoso não demonstrar um perfil de psicopata. "Ele parece ter outros valores
na vida, como filhos. Para mim, é um criminoso comum que tem que ser entendido
como uma pessoa má" aponta.
O psicopata, conta a especialista, é uma
pessoa semi-imputável, tendo o direito de cumprir a pena em uma casa de
custódia. "O criminoso comum vai para a cadeia, que é para onde eu acho que ele
mereça ir", acrescenta.
Ela também cita o longo convívio do
assassino com a família das vítimas. "Se ele fosse mesmo um psicopata, teria
feito isso antes. Naquela hora, deve ter aparecido a oportunidade e ele cometeu
essa maldade", opina.
TraumaSegundo a psicóloga especialista em traumas, Marjori Lotufo, a tragédia que acometeu família e amigos pode se desenvolver para um Transtorno de Estresse Pós-traumático (Tept). "As lembranças específicas deste episódio pode disparar a firmação de padrões defensivos de comportamento, por exemplo, medos exacerbados, que se tornam inapropriados, trazendo desajustes significativos à vida cotidiana", explica. O estado ansioso, de acordo com ela, também deve afetar a família. "As alterações físicas como taquicardia, sudorese, hiperventilação, aumento da pressão arterial e as alterações psíquicas, como apreensão, inquietude e alerta fazem parte do quadro traumático", completa.
"Deve-se recorrer à psicoterapia quando o sofrimento for expressivo a ponto de limitar a vida diária, ou quando perdurarem sintomas como memórias recorrentes do trauma, distanciamento afetivo, pensamentos indesejáveis, insônia, irritação, alterações cardiovasculares, fraqueza, tonturas, tremores, culpa, pânico, raiva, tristeza e outros", esclarece.
Fonte: http://odiariodemogi.inf.br/cidades/noticia_view.asp?mat=33020&edit=6
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